Mariza, nome artístico de Marisa dos Reis Nunes, é uma cantora portuguesa, Nascida em Lourenço Marques.
Em menos de doze anos, Mariza passou de um fenómeno local quase escondido, partilhado apenas por um pequeno círculo de admiradores lisboetas, para uma das mais aplaudidas estrelas do circuito mundial da World Music.
Tem sido presença regular em palcos como o Carnegie Hall, em Nova Iorque, o Walt Disney Concert Hall, em Los Angeles, o Lobero Theater, em Santa Bárbara, a Salle Pleyel, em Paris, a Ópera de Sydney ou o Royal Albert Hall. O jornal britânico The Guardian considerou-a «uma diva da música do mundo». Ao longo de sua carreira vendeu mais de um milhão de discos no mundo todo, sendo uma das recordistas de vendas de discos em Portugal.
Marisa nasceu em Lourenço Marques (atual Maputo), capital da província ultramarina portuguesa de Moçambique. É filha de pai português, José Brandão Nunes, e mãe moçambicana, Isabel Nunes. Nasceu prematura, de seis meses e meio sem qualquer justificação clínica aparente, e, segundo declarações da cantora à SIC, o pai considerava-a o bebé mais feio que alguma vez vira. Segundo ela «ainda tinha as orelhas coladas e os olhos por abrir» e o próprio pai pensou que não sobreviveria.
Ao colo da mãe, com três anos, chegou ao Aeroporto da Portela em Lisboa, pela primeira vez em 1977. Na actual Maputo, o pai trabalhara como gerente de uma empresa Holandesa de nome Zuid. Durante o êxodo das famílias portuguesas nas antigas colónias ultramarinas portuguesas, o pai abandonou Moçambique com a família mais chegada, escolhendo Lisboa para recomeçar uma nova vida. Instalaram-se em Corroios e mais tarde no n.º 22 da Travessa dos Lagares, na Mouraria.
Em 1979 reabriram o restaurante Zalala no bairro típico de Lisboa, Mouraria, berço do fado e frequentado por inúmeros fadistas de referência, como Fernando Maurício e Artur Batalha bem como Alfredo Marceneiro Jr, filho de Alfredo Marceneiro, que levou Mariza com 7 anos a cantar pela primeira vez num ambiente profissional na Casa de Fado Adega Machado. Zalala, hoje fechado, o restaurante onde Mariza cresceu, foi assim nomeado em homenagem a uma praia moçambicana.
Foi o pai que determinou o gosto da cantora pelo fado. Segundo ela, o pai estava «sempre a ouvir fado e, na hora das refeições, nunca se via televisão; ouviam-se discos, sempre de fado…» Fernando Farinha, Fernando Maurício, Amália Rodrigues, Carlos do Carmo, entre muitos outros, eram os predilectos de José Nunes, e foram os que mais influenciaram a forma de cantar de Mariza.
Com cinco anos de idade, recebeu o seu primeiro xaile, e começou então a moldar a voz que a tornou famosa. Sobre o estabelecimento onde aprendeu a cantar o fado e onde atuou pela primeira vez aos cinco anos, já envergando um xaile negro, Mariza referiu:
“ | Foi aqui que toda a história começou. Se calhar é aqui que vai acabar. Tudo pode acabar de repente, tal como começou, e eu volto à minha Mouraria e à taberninha dos meus pais para servir dobradinhas e copos de vinho que não me chateia nada! | ” |
Ali cruzou-se «com tantos fadistas que as suas caras já se esfumam na memória». O restaurante permanece fechado há vários anos mas ainda conserva na porta a placa com o seu nome e uma legenda que diz «O cantinho do artista».
Apenas na adolescência começou a ser levada a sério como cantora, mas os pais admitiram em várias entrevistas saberem que a filha tinha um «dom». O primeiro fado que interpretou no Zalala foi Os Putos, de Carlos do Carmo, que o seu pai lhe ensinou fazendo desenhos em toalhetes de papel. Ainda a menina não sabia ler, e era a forma de decorar os fados preferidos pelo pai, assim como Ó Ai Ó Linda e Menina das Tranças Pretas.
O recreio da escola primária da Mouraria era um palco para a menina de seis anos. Em entrevista ao Correio da Manhã, a antiga auxiliar de educação da escola, Dª. Fernanda, referiu que a jovem fazia uma roda com as colegas e depois ia para o meio delas onde cantava, com as professoras de vigia nos vestíbulos ou atrás das janelas, para que não se sentisse constrangida.
Outro dos seus hobbies era o sapateado, praticado à porta de casa com caricas de Coca-Cola coladas nos sapatos. Cantava em casa e, a cumprir o papel de microfone, utilizava latas de laca e desodorizantes. «Era a minha imitação do Fred Astaire!», declarou posteriormente.
Já na adolescência, Mariza passa a frequentar a Escola Secundária Gil Vicente. Era hábito seu fugir de casa para ir ouvir as noites de fado para o Grupo Desportivo da Mouraria, onde permanecia à porta, já que não lhe permitiam a entrada.
Até se assumir como fadista cantou diversos géneros musicais como, pop, gospel, soul, jazz e ainda música ligeira, acompanhando o artista/cantor Luís Filipe Reis. Na época, não caía bem entre os amigos dizer que um dos seus hobbies era cantar fado. Formou com alguns amigos uma banda de covers de nome Vinyl, e costumavam cantar no bar Xafarix, em Lisboa. Mais tarde formou os Funkytown.
A música brasileira era uma atração para Mariza que viveu durante cinco meses no Brasil, no ano de 1996.
Foi numa das mais típicas casas de fados de Lisboa, o Sr. Vinho, propriedade de Maria da Fé e de José Luís Gordo, situada na Lapa, que Mariza começou a cantar mais profissionalmente. «Maria da Fé foi praticamente a professora dela aqui», segundo José Luís Gordo, que chegou a escrever dois fados para a intérprete. A primeira música que cantou em público foi Povo que lavas no rio. Cantou também no Café Café, propriedade de Herman José.